MARCO DINIZ
fine photography
BIOGRAFIA
Marco Diniz, brasileiro, autodidata, passou vários anos entre a França, Bélgica, Inglaterra, Brasil Estados Unidos e Canada. Diplomado em Francês e Civilização Francesa pela Sorbonne, em Paris, navega entre o mundo das artes e a vida acadêmica como tradutor, professor e coordenador de francês.
Tem trabalhos publicados em diversos jornais e revistas e exposições individuais no Brasil (Centro Cultural UFMG, Café com Letras, Centro de Referência do Audiovisual-CRAV, entre outros) e em Nova York (Ward Nasse Gallery, Soho).
Desde 2011, vive e trabalha em Montreal onde estudou História da Arte e terminou um mestrado em cinema, paralelamente à sua prática fotográfica.
Exposições:
Um olhar sobre o espaço da morte
Centro Cultural da Universidade Federal de Goiás – Goiânia/2017
Poor banished children of Eve
Galeria Café com Letras – Belo Horizonte/2009
Un regard sur Paris
Diamond Mall – Belo Horizonte/2009
A Grande Passagem
Solar da Baronesa – Santa Luzia/2009
The Mirror of the Soul
Ward-Nasse Gallery – Soho-New York/2004
A Grande Passagem
Fundação ArcelorMittal – Timóteo/2000
No Bonfim da Vida
CRAV – Centro de Referência do audiovisual e Capela do Cemitério do Bonfim – Belo Horizonte/1999
A Morte Suave
Centro Cultural da Universidade Federal de Minas Gerais – Belo Horizonte/1999
Arraial da Boa Viagem de Curral del Rey
Casa do Centenário – Banco Itaú – Serraria Souza Pinto – Belo Horizonte/1997
Un regard sur Paris
Aliança Francesa – Belo Horizonte/1997
Publicações:
Fotógrafos vivos ou que já partiram, temas que vão desde os clubes de jazz do Sul dos Estados Unidos ao ZAD de Notre-Dame-des-Landes, dos grupos de skatistas marroquinos aos curandeiros de Malabo, dos « mods » de Brighton aos travestis de Montreal. A riqueza temática das antigas revistas da Life.
• Um olhar sobre o espaço da morte
Catálogo bilíngue da exposição homônima – Goiânia – novembro/2017
• Yékity – Filme documentário, Brasil, 24 min. Vida, arte e resistência cultural no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais.
Yékity, filme documentário de 24 minutos, é um poema visual, a vida fio a fio, contada pelos habitantes do Vale do Jequitinhonha; uma verdadeira colcha de retalhos construída por seus protagonistas. O fio condutor é o próprio rio, antes e depois da chegada da luz, e seu legado histórico e cultural, das primeiras nações indígenas, dos quilombos, até a chegada dos ex-combatentes da Guerra do Paraguai. Ora na fala do frei holandês radicado na região, Francisco van der Poel, ora na fala dos compositor e cantor Rubinho do Vale, ou na música de Nino Aras, o filme mostra a cultura local e dá voz às artesãs, artistas populares, através da música, de suas lendas, de sua arte e de suas histórias.
Direção de Marco Diniz com fotografia de Wagner Tibiriça e edição de Felipe Carrelli.
SOBRE A CRIAÇÃO
No decorrer dos anos 90, comecei meu trabalho em preto e branco, inspirado nos grandes mestres da fotografia humanista francesa, como Édouard Boubat (1923-1999) e Robert Doisneau (1912-1994), de quem herdei o olhar e através do qual descobri Paris. Pude observar a cidade na corrente dos fotógrafos do pós-guerra, e minhas primeiras explorações do meio consistem essencialmente em revelar a alma singular desta cidade onde vivi durante 8 anos. Minhas produções parisiense, e em seguida brasileira, está intimamente ligada à minha experiência de flaneur solitário e observador, atento às particularidades visuais e culturais da paisagem urbana, à humanidade que ali habita, bem como aos vestígios do passado. No acaso dessa caminhada e de alguns encontros, pude captar uma multiplicidade de momentos furtivos, insólitos ou divertidos: cenas quotidianas que, escrupulosamente enquadradas para serem fotografadas em preto e branco e reveladas segundo as técnicas tradicionais, revestem de nostalgia e poesia a aura das imagens que aparecem na câmara escura.
Nos últimos anos, minhas pesquisas têm se concentrado mais especificamente em torno de dois temas centrais que: a morte e o feminino. Concebi meu processo de criação fotográfico como um meio de confronto e apreensão destes dois grandes enigmas da existência – a alteridade do homem vivo, e a alteridade sexual – que, do ponto de vista da psicanálise, corresponde igualmente aos mais profundos medos do homem. A partir de uma longa e íntima frequentação ao Cemitério Père-Lachaise em Paris, e ao Cemitério Bonfim, em Belo Horizonte/Brasil, pude mostrar, com a exposição “A Grande Passagem” (Centro Cultural UFMG, 1999), a inquietante beleza desses lugares transitórios e limítrofes – “lugares outros” ou “heterotopias”, segundo a expressão de Michel Foucault – em que coabitam os vivos e os mortos. Centenas de fotogramas de mausoléus, esculturas, epitáfios, estátuas monumentais, são o resultado desse trabalho que expressa uma relação de empatia com esses lugares de luto e memória, onde rondam secretamente nossos desejos, nossos medos e fantasias latentes.
A tensão entre Eros e Tanatos que se desprende deste tema se encontra precisamente no centro de meu mais recente projeto sobre a representação de mulheres mártires da história ocidental. As cenas, recriadas em estúdio a partir de uma livre interpretação de figuras históricas ou míticas, mostram personagens femininos (Lilith, Joana d’Arc, Ana Bolena) cuja potência sexual foi acentuada ou teatralizada, ressaltando assim a ameaça que elas representam para a identidade masculina. Este trabalho, identificado com os temores do sexo masculino, aborda igualmente a questão da transexualidade, da homossexualidade e da opressão ligada ao gênero, sobretudo no que tange à cultura brasileira (Geni) e a alusão feita ao Vermelho e o Negro, de Stendhal. Na linha mestra deste trabalho, em que se percebe a relação intrínseca e extrínseca do homem com « o outro sexo », redireciono o olhar para a condição feminina, tal qual ela é vivida em Montreal, onde ronda ainda o fantasma perturbador do espectro relativo ao massacre da Escola Politécnica em 1989. Através da fotografia, procuro compreender, através de um olhar masculino e também estrangeiro a realidade inscrita no inconsciente coletivo desta sociedade.
Embora tenha produções em cor em meus últimos trabalhos, além de alguns processos alternativos, meu fio condutor ainda é o preto e branco, os métodos convencionais que me permitem produzir uma imagem instantânea, sem retoques ou montagens. Meus próximos trabalhos serão fruto de reflexões acerca dos parâmetros técnicos e de procedimentos realizados em laboratório, do estatuto material do negativo e de sua possível destruição, uma vez a foto impressa. Procuro assim me engajar em novos caminhos, relançar meu processo de criação e aprofundar a dimensão reflexiva de meu olhar.